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Actualizada em
14/01/14
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Recuperar a memória para fazer história (VI): Constance Markievicz

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Especial Comissom Nacional da Mulher

Fevereiro 2013

Em fevereiro de 1868, nascia em Londres, no seio dumha família de origem irlandesa, Constance Gore-Booth ("Markievicz" após o seu casamento), umha revolucionária que dedicaria a sua vida à luita pola independência da Irlanda, implicando-se ativamente no movimento feminista e socialista da época.

Interessada pola pintura, nom pudo formar-se em Dublim, como era a sua intençom, pois apenas um centro admitia estudantes mulheres, polo que em 1892 freqüenta umha escola de arte em Londres, iniciando a sua implicaçom política no movimento sufragista como membra do National Union of Women's Suffrage Societies.

Porém, a sua experiência vital começa a estar protagonizada polo ativismo político de caráter nacionalista quando após 1905 funda em Dublim, junto com outras artistas irlandesas e irlandeses, o United Artists Club, que rapidamente estabeleceu laços com a Conradh na Gaeilge ('Liga Gaélica'): umha associaçom que embora explicitamente nom estabelecesse uns ideias políticos mui definidos, a defesa que fazia da cultura e a língua irlandesa fijo que por volta dela se relacionassem figuras chave do movimento independentista irlandês.

Em 1906 começa a formar-se ideologicamente lendo exemplares velhos de publicaçons como The Peasant e Sinn Féin, para em 1908 iniciar a sua implicaçom mais ativa unindo-se ao Sinn Féin e às Inghinidhe na hÉireann ('Filhas da Irlanda'), a organizaçom de mulheres nacionalistas radicais liderada por Maud Gonne. Anos mais tarde, as Filhas da Irlanda acabam inserindo-se na Cumann na mBan ('Assembleia das Irlandesas'), umha organizaçom paramilitar nascida num primeiro momento para ajudar desde o ponto de vista económico, especialmente no referido à distribuiçom armamentística, aos Óglaigh na hÉireann ('Voluntários Irlandeses'), mas que com o passo dos anos foi adquirindo umha certa independência dos seus "homólogos" masculinos, e junto a esta, umha maior militarizaçom das suas membras

Markievicz era mui consciente da necessidade da luita organizada e nom só fomentou a politizaçom das mulheres, senom que também se esforçou em proporcionar ferramentas ideológicas e materiais à mocidade irlandesa, polo que em 1909 funda Fianna Éireann ('Soldados da Irlanda'), umha organizaçom juvenil que tinha como objetivo treinar as e os jovens independentistas militarmente no uso de armas de fogo, disciplina militar e primeiros auxílios.

A primeira medida repressiva contra Markievicz tivo lugar em 1911, quando é encarcerada por realizar um discurso numha manifestaçom convocada pola Irish Republican Brotherhood ('Irmandade Republicana Irlandesa') na qual participárom 30.000 pessoas que mostravam a sua repulsa à visita à Irlanda do rei británico Jorge V. Durante esta manifestaçom, Markievicz repartiu panfletos, participou no lançamento massivo de pedras a imagens da família real [1] e conseguiu queimar umha bandeira gigante británica retirada da Leinster House. Porém James McArdle foi encarcerado durante um mês por esta açom, apesar de que Markievicz testificou no juízo que ela fora a responsável.

A influência e o labor político mais relevante de Markievicz é desenvolvido dentro do Arm Cathartha na hÉireann ('Exército Cidadao Irlandês'), a organizaçom armada nacionalista e de esquerdas, que operou na ilha entre 1913 e 1922, nascendo com a finalidade de proteger o proletariado da repressom policial británica. Entre algumhas das açons levadas a cabo por Markievicz nesta época podemos citar, apenas como exemplo, a campanha de abastecimento de armas que tivo lugar em julho do 1914, em que umha brigada do Exército Cidadao Irlandés (ECI) liderada por esta revolucionária, assaltou um desembarco de armas no porto de Howth, um sucesso chave para o abastecimento de material militar que seria empregado durante a Éirí Amach na Cásca ('Revolta de Páscoa') de 1916.

Precisaríamos de muitíssimo espaço para poder analisar em profundidade qual foi o importantíssimo papel representado polas mulheres organizadas na Cumann na mBan e por aquelas que contavam com um treinamento militar muito mais sofisticado, como as membras do ECI durante a Revolta de Páscoa, mas comentaremos brevemente algumhas das açons protagonizadas por Markievicz em qualidade de subcomandante do ECI.

Ela e Michael Mallin estavam ao cargo da brigada que luitava no St Stephen's Green. Markievicz controlava a instalaçom das barricadas nos inícios da revolta e durante a batalha consolidou a sua referencialidade polo sua destreza com as armas, sendo elogiada por ter ferido um franco-atirador do exército británico.

Quando rematou o alçamento, fôrom presas um total de 77 mulheres, mas a única que ainda ficava em prisom depois do natal de 1916 foi Markievicz. Fora condenada a morte, mas a sua pena foi comutada a cadeia perpetua pola sua condiçom de mulher, ante o que ela declarou que teria preferido partilhar o mesmo destino que os seus camaradas homens, que foram todos executados.

Em 1917 o governo británico concedeu a amnistia a todas as pessoas que estavam presas por terem participado na Revolta de Páscoa, mas em 1918 Markievicz era detida de novo, desta volta polo seu ativismo promovendo a insubmissom contra o serviço militar obrigatório.

Nas eleiçons gerais de 1918 é elegida deputada do Parlamento Británico, sendo a primeira mulher em ser eleita para esse cargo, mas seguindo a política abstencionista do Sinn Féin, nom ocupará o seu posto

Durante a Guerra de Independência Irlandesa (1919), ocupou o cargo de Ministra de Trabalho [2], cargo que também ocupou após as eleiçons de 1921, convertendo-se na segunda mulher na Europa em fazer parte do poder executivo dum Estado (a primeira fora Alexandra Kollontai na URSS). Porém, abandonou o governo em 1922 ao ser contra o Tratado Anglo-Irlandês. Agindo sempre com coerência, luitou mui ativamente na Guerra Civil Irlandesa, e muito depois de que esta acabasse, a sua firmeza à hora de defender umha república irlandesa provocou que volvesse ingressar em prisom, onde junto com outras 92 presas levou a cabo umha greve de fame que apressurou a sua posta em liberdade.

Morreu aos 59 anos de idade, em 1927, seguramente dumha tuberculose que contrairia trabalhando nos asilos para pobres em que colaborava.

Constance Markievicz demonstrou umha e outra vez a sua coragem e a sua infatigável vontade transformadora, sendo um exemplo de ativista política multifacetada, capaz de desenvolver com habilidade diversas dimensons da luita revolucionária.



Notas:

[1] A sua amiga Helena Moloney foi detida por participar neste ato de lançamento de pedras e converteu-se na primeira mulher em ser julgada e detida por um ato político desde a época das Ladies Land League, a primeira organizaçom feminina política de massas em Irlanda, fundada em 1801, que reclamava que a terra fosse propriedade do campesinato irlandês que a trabalhava e nom dos terratenentes británicos que os exploravam.

[2] Em 1919, os candidatos eleitos nas eleiçons gerais de 1918 negárom-se a reconhecer o Parlamento británico, polo que conformárom um parlamento revolucionário chamado Dail Éirean, estabelecido o mesmo dia em que estourou a Guerra de Independência Irlandesa, depois de que nessa primeira reuniom assinassem a Declaraçom de Independência da Irlanda. Markievicz formalmente fai parte deste parlamento revolucionário desde a primeira assembleia, mas estava "presa polo inimigo estrangeiro" tal e como justificavam a sua ausência nessa assembleia.



Bibliografia

Haverty, A. (1988): Constance Markievicz - An Independent Life. London: Pandora.

McCarthy, C. (2007): Cumann na mBan and the Irish Revolution. Cork: The Collins Press.


Ver também o especial: Comissom Nacional da Mulher