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Actualizada em
14/01/14
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Recuperar a memória para fazer a história (IX): Tránsito Amaguaña

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Especial Comissom Nacional da Mulher

Maio 2013

Nesta IX entrada da nossa campanha de recuperaçom e visibilizaçom do papel das mulheres no desenvolvimento da luita de classes ao longo da história da humanidade, queremos aproveitar este 12 de maio, data do quarto aniversário da sua morte, para lembrar e pôr em alça a vida de luita da líder indígena Tránsito Amaguaña. Continuadora da pioneira dirigente Dolores Cacuango, seria a única líder sobrevivente dos grandes levantamentos indígenas do Cayambe efetuados na primeira metade do século XX, prévios à Reforma Agrária no Equador.

Rosa Elena Amaguaña Alba, este era o seu verdadeiro nome, nascia em 10 de setembro de 1909 na localidade de Pesillo no seio dumha família de jornaleiros huasipungueros. Este nome procedia dos huasipungos, pequenas parcelas pertencentes a grandes latifundistas que eram atribuídas a cada família para que realizassem os seus próprios cultivos (Rodas, 2007).

É importante insistir no contexto em que Tránsito se criou para compreender o desenvolvimento da sua pronta rebeldia. Naquela altura, as e os indígenas nom eram considerados seres humanos e como tal, careciam de direitos, trabalhavam sob condiçons de semi-escravagismo e a sua vida pertencia aos patrons.

Numha infáncia marcada pola exploraçom e a violência que a oligarquia terratenente depositava sobre os trabalhadores e as trabalhadoras indígenas, Tránsito presenciou como torturavam a sua nai e o seu pai por reclamar que nom lhes quitassem o seu huasipungo.

A figura da sua nai é mui importante para compreender a rebeldia e consciência que pronto mostraria. Nom querendo que a sua filha fosse analfabeta como ela o era, quando Tránsito cumpriu os 9 anos matriculou-na na escola, umha experiência que deixou umha forte pegada em Amaguaña. A pesar de sofrer a discriminaçom, exclusom e humilhaçom por ser indígena, ela destacava pola sua habilidade e grande capacidade de aprendizagem e polo muito que gostava de assistir a aulas.

Porém, com 14 anos Tránsito era obrigada a casar com José Manuel Alba, de 25, umha prática mui comum entre as famílias indígenas para evitar que as meninas fossem violadas e ficassem grávidas dos patrons (Prieto, 1978). Ao ano seguinte teria já a sua primeira criança e suportaria o quotidiano da violência machista em forma da brutalidade de golpes, insultos e ciúmes obsessivos ante o ativismo clandestino de Tránsito que já tinha contactado com sectores vinculados ao Partido Socialista Equatoriano.

Pondo fim a esse opressivo matrimónio ao empregar a violência para defender-se dos golpes do marido, Tránsito sentiu-se já com liberdade para assumir um maior compromisso político. Com dous filhos ao cargo (os outros tinham falecido), fazia longas caminhadas com eles ao lombo para ir a Quito e manter reunions clandestinas.

Integrada no Partido Comunista, donde lhe dérom o sobre-nome de Mamá Tránsito ou Camarada Tránsito, em 1930 contribui na criaçom das primeiras organizaçons indígenas do seu país e fai parte de até vinte-e-seis marchas a Quito reclamando terras e direitos laborais para o seu povo. Ao ano seguinte, em 1931, as trabalhadoras e trabalhadores indígenas declaravam-se em greve exigindo, entre outras reivindicaçons, um aumento de salário, jornada laboral de oito horas, descanso nos domingos e a entrega da terra para quem a trabalha. Esta greve seria brutalmente reprimida e custaria-lhe a Tránsito a destruçom da sua casa e quince anos de clandestinidade.

Seria neste contexto que conheceria a também líder indígena Dolores Cacuango (membra do Comité Central do Partido Comunista do Equador) de quem tomou exemplo e junto com outras, lográrom que a rebeliom indígena estivesse protagonizada e dirigida por mulheres. Eram elas as que encabeçavam as comissons a Quito e quem se entrevistavam com as autoridades. Aliás, tanto Dolores como Tránsito eram magníficas oradoras, apaixonadas e com vocaçom de liderato, capazes de lograr o apoio das massas de indígenas e dirigi-las/os no seu caminho emancipatório(Rodas, 2007)

Na década de 40 o estado equatoriano atravessava umha situaçom de emergência popular que fijo que os movimentos de esquerdas tivessem umha maior aceitaçom social. Foi neste contexto que Tránsito participa na criaçom da FEI (Federaçom Equatoriana de Índios, 1944) na qual dirigentes comunistas e sindicalistas agrícolas tivérom um papel promotor fundamental.

A FEI, nascida arredor da luita de classes mas introduzindo o anti-racismo e o nacionalismo étnico (Becker, 2006) combinava as demandas dos e das trabalhadoras urbanas com as das indígenas (aliança obreiro-camponesa) e tivo notórias conquistas como a suba de salários, a melhora das condiçons de trabalho, a supresom dos dízimos, mas sobretudo, e dado o papel protagónico das mulheres no movimento indígena, lográrom aplicar medidas de proteçom das trabalhadoras e que cobrassem polo seu trabalho, antes era completamente gratuito.

Porém ainda ficava muito trabalho por fazer e o seguinte desafio para Tránsito era lograr criar escolas para meninas e meninos indígenas, impulsionando na década de cinquenta umha rede de escolarizaçom em espanhol e quechua (Miño, 2006).

Junto com Lucha Gómez e Nela Martínez luitariam polos direitos das mulheres na Aliança Feminina Equatoriana, estrutura que supujo a irrupçom organizada das mulheres na cena pública.

Na década de sessenta, viaja pola primeira vez a Cuba para ser recebida polos recentemente vitoriosos/as guerrilheiras cubanas. Também viajaria à Uniom Soviética representando o PCE e o povo indígena do Equador no Congresso do PCUS. Ao seu regresso, e ante o medo do governo a que a revoluçom cubana se estendesse, seria encarcerada acusada de tráfico de armas e de tratar de planificar a revoluçom no Equador, algo que ela negou.

Durante a sua estadia no cárcere morreriam o seu pai, a sua nai, os seus dous filhos e a nora, algo que provocou umha profunda tristeza em Tránsito. (Rodas, 2007). Foi assim que aceitou assinar umha declaraçom na qual afirmava nom continuar contribuindo ao levantamento de indígenas a cambio da sua liberaçom.

Porém, à saída continuou promovendo a criaçom de cooperativas e luitando pola entrega de terras aos e às camponesas.

Em 1964 o governo aprovava a Reforma Agrária que suporia a redistribuiçom das terras entre famílias e cooperativas de camponeses/as. Porém esta entrega nom era gratuita tendo que pagar por ela, resultando em que quem mais se beneficiou na nova reforma eram empresas agropecuárias e industriais que nasciam no campo. Aliás, a entrega nom equitativa, a falta de soberania real das cooperativas sobre a terra, os subornos do governo, etc... figérom com que o movimento cooperativista se fosse corrompendo e desgastando fazendo que a luita das e dos indígenas fosse progressivamente enfraquecendo-se. (Rodas, 2007)

Em 1988, deputadas/os indígenas pressionárom o governo para que Tránsito recebesse umha pensom vitalícia e umha parcela (as mulheres nom tinham direito à propriedade) em reconhecimento à sua vida entregada à defesa da comunidade indígena. E lá, na ladeira do volcám Cayambe é que passou os seus últimos anos de vida.

Umha vida marcada pola tripla opressom como camponesa, indígena e mulher. Umha vida marcada pola luita incansável pola defesa dos direitos e a dignidade destes três sectores sociais aos que ela pertencia. Umha vida que as jovens trabalhadoras galegas de hoje devemos lembrar nom só desde a nossa convicçom internacionalista e solidária com os povos do mundo mas também desde a nossa experiência própria como sujeito também triplamente oprimido por sermos trabalhadoras, galegas e mulheres.

Lembramos as comovedoras palavras de Tránsito que dam boa conta do seu compromisso com a luita de classes até o fim dos seus dias:


Eu figem-me velha nesta luita, e agora, polo menos hei de morrer comunista”


Becker, M. (2006): "Comunistas, indigenistas e indígenas en la formación de la Federación Ecuatoriana de Indios y el Instituto Indigenista Ecuatoriano" en Iconos, Revista de Ciencias Sociales, nº 27, p. 135-144.

Miño Grijalva, C. (2006): Tránsito Amaguaña. Heroína India. Banco Central del Ecuador, Vol. IV de la Colección “Biografías Ecuatorianas”.

Prieto, M. (1978): Condicionamientos de la movilización campesina: el caso de las haciendas Olmedo/Ecuador (1926-1948). Quito: Pontificia Universidad Catolica del Ecuador (PUCE), Tesis para optar al Título de Licenciatura en Antropología.

Rodas, R. (2007): Tránsito Amaguaña: su testimonio. Quito, Comisión Nacional Permanente de Conmemoraciones Cívicas. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/28488226/Transito-Amaguana-Su-Testimonio-Raquel-Rodas


Ver também o especial: Comissom Nacional da Mulher