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Actualizada em
14/01/14
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Recuperar a memória para fazer a história (VII): Alexandra Kollontai

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Especial Comissom Nacional da Mulher

Abril 2013

Pobres de aquelas que cedam à debilidade!

Desgraçadas as fracas e as que olham atrás para um passado que esvaece!

Estas som imediatamente afastadas do caminho polo qual iam avançando.

E com a cabeça gacha, as mais cansas derrubam-se à beira,

e procuram cara atrás o castelo grise da antiga escravidom.

Alexandra Kollontai. A Nova Mulher. 1918. Moscovo.

Alexandra Kollontai foi umha teórica, feminista e revolucionária do Movimento Socialista russo. Foi a primeira mulher em formar parte dum Governo, no primeiro Estado Obreiro da História, e a primeira mulher embaixadora.

Infância e achegamento às posturas marxistas na juventude.

Alexandra M. Domontovich nasce em 31 março de 1872 no seio dumha família aristocrática liberal proprietária de terras, de origem ucraniana, russa e finlandesa. Este facto é determinante, já que facilita que Alexandra Kollontai poda receber umha educaçom de qualidade e aprender varias línguas: o russo, o finlandês, o inglês ou o francês. Estes conhecimentos facilitam que a revolucionária poda empapar-se das incendiárias obras marxistas dessa época.

Em 1893, casa com o seu primo de terceiro grau Vladimir Kollontai, do qual adquire o seu apelido. Desta uniom nasce o seu filho. Alexandra pronto vai experimentar a opressom que sofrem as mulheres no matrimónio e na família tradicional. Esta é umha das suas primeiras batalhas contra o matrimonio, e é nesta altura quando começa a aferrar-se à defesa do amor livre. Posteriormente escreverá "É completamente certo que eu, como outras ativistas militantes e trabalhadoras de hoje em dia, fum quem de entender que o amor nom era o objeto principal da vida para mim, e soubem que o trabalho era o centro da minha atividade".

Sendo jovem aproxima-se ao marxismo, e desenvolve umha ativa militáncia comunista. É nos anos do florescimento do marxismo na Rússia, a princípios da década de 1890, quando adquire consciência de classe e decide somar-se ao Movimento Obreiro Russo. Assiste a conferências, trabalha em sociedades semi-legais e lê vorazmente textos e livros marxistas sobre dialética materialista e questons sociais. No seu escrito "Autobiografia dumha mulher sexualmente emancipada", editado em 1926, a revolucionária relata o efeito transformador da sua implicaçom na greve têxtil em Rússia de 1986 : "Mas foi umha visita à fábrica têxtil de Krengolm, que dava trabalho a 12.000 pessoas de ambos os dous sexos, a que decidiu o meu destino. Eu nom podia levar umha vida feliz e pacífica quando a populaçom se encontrava terrivelmente escravizada". A leitura da obra de Bebel "Mulher e Socialismo" exerce sobre ela umha grande influência, e empurra-a a mobilizar-se contra a exploraçom e a opressom da mulher.

Em 1898 viaja a Zurique para estudar Economia Política. Numha clara aposta por dedicar a sua vida à emancipaçom da humanidade e rachando com os roles patriarcais, deixa o seu casal e o seu filho. Lá conhece as e os revolucionários russos exilados, e a obra de Rosa Luxemburgo. Em 1899, com 27 anos, volta a Leningrado e une-se ao Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR).

Militáncia comunista e feminista

Após ingressar formalmente no POSDR, começa umha etapa da sua vida de incessante trabalho e açom política, convertendo-se numha destacada propagandista e reconhecida militante socialista. Fará varias viagens pola Europa. Viajará a Inglaterra para estudar o movimento operário inglês, de onde tira importantes liçons que ficarám plasmadas em numerosos artigos. Em 1901 conhece Kautsky, Luxemburgo e Lafargue em Paris, e Plekhanov em Genebra.

Trás voltar à Rússia em 1903 publicará a sua primeira obra, "A condiçom de vida dos trabalhadores finlandeses". A origem finlandesa da sua mae e as agressons imperialistas do regime czarista a Finlândia desperta em Kollontai a consciência da opressom nacional e a necessidade das luitas de libertaçom nacional. Esta obra estudará cientificamente as condiçons de trabalho do proletariado na industria finlandesa.

Em 1905, estoura a Primeira Revoluçom, após o conhecido Domingo Sangrento. A revolucionária participa ativamente na insurreiçom obreira e popular contra o terrível regime czarista. O Partido encarrega-lhe levar à classe trabalhadora o programa e as ideias revolucionárias com a realizaçom de mítins e palestras. Além do mais, em colaboraçom com Nadia Krupskaia, trabalhará na construçom dum movimento de mulheres na Rússia. Nesta altura, com o movimento sufragista em apogeu, tivo que combater as ideias do feminismo burguês e defender a importância da luita feminista no seio do Movimento Obreiro.

Em 1906, Rosa Luxemburgo apresenta-a a Clara Zetkin, de quem se tornou discípula, e tomará contacto com a seçom feminina da Internacional Socialista. Nesse mesmo ano, tentou marcar umha reuniom para fundar um departamento de mulheres trabalhadoras na sede do POSDR, mas as suas ideias nom fôrom apoiadas polos militantes do Partido. Em 1907, as comunistas do Partido conseguem criar o primeiro Clube de Mulheres Trabalhadoras, e Kollontai participa como delegada da Rússia na I Conferência Internacional de Mulheres de Stuttgart. Em 1908 publica "As bases sociais da questom feminina", no qual, influenciada polo trabalho e as análises de Zetkin, analisa a luita de classes, o trabalho feminino na Rússia, e acrescenta-o com as suas teses sobre a moral sexual e a liberdade sexual. A sua incessante atividade política fai que seja perseguida duramente polas forças repressivas, e tenha que exilar-se em Alemanha.

Exílio e militância internacionalista

Entre dezembro de 1908 e março de 1917, Kollontai viveu como refugiada política em diferentes países de Europa e América do Norte. Neste período prosseguiu a sua luita pola Socialismo e a libertaçom da mulher, trabalhando como organizadora do Partido e levando o seu discurso político para Alemanha, Inglaterra, França, Noruega, Dinamarca, Suíça ou Estados Unidos. Ao chegar a Alemanha soma-se ao Partido Social Democrata, assumindo tarefas de propaganda, agitaçom e elaboraçom teórica. Escreve "A sociedade e a maternidade", um estudo que lhe fora encarregado polas/os mencheviques sobre o qual elaborar um projeto de lei para a Duma (pseudo-parlamento russo convocado após 1905 por Nicolás II que concedia certos direitos civis à populaçom).

Ao estalar a Grande Guerra em 1914, a II Internacional Socialista dividiu-se em duas posiçons. Kollontai somou-se à fraçom que se opunha à Grande Guerra, por ser umha guerra imperialista, e contra o “socialpatriotismo”, que defendia a aliança da burguesia e a classe trabalhadora para fazer frente às demais potências burguesas. Nesse ano é detida com o seu filho. Posteriormente ao sair de prisom exila-se na Suécia. Lá começa a trabalhar em prol da defesa do Internacionalismo Proletário. Em Suécia é novamente detida por fazer propaganda contra a guerra, e é deportada a Dinamarca. Em 1915 tem que emigrar para a Noruega, e é lá onde decide unir-se à fraçom bolchevique. Em base a estas posiçons escreve, a petiçom de Lenine, o panfleto intitulado "Quem precisa da guerra?".

Comissária do Povo e feminista no Estado Operário

Após a Revoluçom política de fevereiro de 1917 volta à Rússia. Kollontai apoiará as Teses de Abril apresentadas por Lenine, defendendo a necessidade dumha Revoluçom Social contra o regime menchevique de Kerenky, e a tomada do poder polo proletariado.

Após a Revoluçom de Outubro, é nomeada Comissária do Povo para a Assistência Pública no primeiro Governo revolucionário. O Governo Bolchevique instaurou umha avançada legislaçom sobre os direitos das mulheres: abole-se o matrimonio religioso, instaura-se o direito ao divórcio, direito ao aborto, elimina-se a potestade marital, instaura-se a licença por maternidade ou o direito da mulher a conservar o seu apelido. Em 1919 redigiu um decreto que protegia as maes e crianças, e instaurava a cobertura sanitária gratuita às maes. Como Comissária do Povo defendeu o trabalho doméstico comunitário como parte essencial da sociedade comunista. Assim, em 1920 escreve que "o trabalho doméstico deixa de ser necessário" porque será substituído polo "trabalho doméstico coletivo", e em 1923 escreve "a maternidade seria considerada umha funçom social, e como tal, deveria ser protegida e sufragada polo Estado".

Kollontai mantivo posiçons revolucionárias ao respeito da liberdade sexual das mulheres e as maneiras de relacionamento afetivo-sexual no Comunismo, defendendo o “amor livre”. Neste senso, em 1918 publica "Nova Moralidade e a classe obreira", em 1920 "O Comunismo e a família" e em 1923 "O Amor das Abelhas Obreiras".

Participou na fundaçom do Genotdel, primeiro departamento feminino governamental do mundo, e preparou o I Congresso das Operárias e Camponesas de toda a Rússia de 1918, ao qual assistírom 1.147 mulheres. Foi presidenta do Departamento Político da República de Crimeia e Comissária de Agitaçom e Propaganda da Ucránia em 1919. Em 1920, foi eleita membra do Comité Executivo no VIII Congresso Soviético. Neste Congresso une-se à Oposiçom Obreira.

Em 1921 escreve "A Oposiçom Obreira", onde expom os "perigos de degeneraçom burocrática do regime", analisa a contradiçom entre burocracia e atividade autónoma das massas, propom o controlo operário das instituiçons, e apresenta o ponto de vista da fraçom sobre o papel dos sindicatos no Estado Soviético. Ao final do Congresso, a Oposiçom Operária é caracterizada como “elemento objetivamente contrarrevolucionário”. No X Congresso som proibidas as fraçons dentro do Partido bolchevique e a Oposiçom é derrotada. Ante estes factos, a comunista bolchevique é afastada do seu cargo como Comissária do Povo.

Embaixadora e últimos anos.

Após a morte de Lenine é atacada polas suas opinions sobre a moral sexual, e após envolver-se nas luitas da Oposiçom Operária é nomeada embaixadora em 1923, o que a mantém longe da URSS durante décadas. As relaçons diplomáticas encomendadas à revolucionária repartem-se entre Noruega (1923-1925), México (1926-1930) e Suécia (1930-1945). Nesta etapa, os avanços e as conquistas feministas som revertidas polo Estalinismo. Em 1923, o Congresso do Partido aprova umha resoluçom sobre o perigo das tendências feministas. Em 1926, Kollontai propom aprofundar nos direitos das mulheres no seio do matrimonio e na família com umha nova Lei matrimonial, e exige maiores meios para a adquisiçom de métodos anticoncetivos, mas ambas propostas som rejeitadas. A partir de entom, Kollontai vai adaptando-se ao regime. Em 9 de março de 1952, em Petrogrado, com 79 anos, a revolucionária morre fisicamente, para deixar à eternidade a paixom e o valor emancipatório das suas ideias e da sua trajetória vital.

Ver também o especial: Comissom Nacional da Mulher