BRIGA, organiza�om juvenil da esquerda independentista

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Actualizada em
14/01/14
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La Haine entrevistou BRIGA prévia Jornada de Rebeliom Juvenil

imagem Julho 2013

Com motivo da chegada da IX Jornada de Rebeliom Juvenil e do Dia da Pátria, a página internacionalista lahaine.org entrevistou-nos há uns dias.

Por tratar vários dos temas de atualidade cremos de interesse a sua publicaçom. Agradecemos a equipa de redaçom do jornal na rede contar com a nossa voz.

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Já anda perto Dia da Pátria Galega e vimos de conhecer que os diversos grupos da mocidade independentista de esquerdas venhem de convocar umha manifestaçom unitária na véspera, dia 24. Vamos dar começo com um deles, BRIGA, para que poda falar-nos quer desta manifestaçom, quer da situaçom da Galiza.

LH. Queremos primeiro de BRIGA que nos fagades um diagnóstico da situaçom da Galiza quer na vertente social, quer na nacional

B. Os anos de crise e saque pesam muito sobre nós. A estrutura demográfica galega é a dum país condenado à miséria coletiva: o saldo vegetativo é mui negativo, a meia etária elevadíssima e a cultura da emigraçom um lastro que já impediu no passado sêculo que este país fosse umha bomba de reloxaria. A "Galicia" espanhola vomita galeg@s, sobre todo jovens. É um país onde, malia a baixa taxa de natalidade, o balde reborda constantemente.

Isto deve-se a umha estrutura económica baseada numha produçom primária desmantelada polos patos Espanha-UE dos anos 80 (pesca, leite, agro, gadaria, naval) e umha exploraçom de recursos com empresas de "enclave" que apenas espoliam o que extraem em benefício da concentraçom económica capitalista fora do país. Isto destrói o território (rias contaminadas, flora invassiva e acidificante, rios intervindos, propriedade privada improdutiva do território, empresas altamente contaminantes -Sam Cibrao, As Pontes, Cerzeda, Mugardos,...-) e produz uns benefícios ingentes para grandes corporaçons.

Espanha e a UE tenhem sido pois umha ruína para a Galiza. A terciarizaçom da economia, com milhares de jovens trabalhando em empregos de distribuiçom, turismo e comércio, mui estacionais e portanto precários, temporários e mal pagos, supom um relevante indicativo da incapacidade de gerir os nossos imensos recursos para industrializar o país com programas auto-centrados de ciclos produtivos completos.

Ainda, a venda ao melhor postor das entidades de capital creditício que se lucravam com as rendas do trabalho de milhares de galeg@s coloca o debate da necessidade dumha banca nacional, mas pública e ao serviço do povo trabalhador, nom dos ladrons de pedigri galego que andam ceivos após ter roubado e defraudado milhons de euros.

A desestruturaçom pois de Galiza como projeto político com umha coluna vertebral económica de seu, a falta de expetativas, as promessas vácuas do governo de Feijó como os flotéis para Navantia, o apelo à procura de emprego fora do país, a taxa de desemprego juvenil em quase 50% oficialmente... dentro de Espanha e da UE nom temos nada a ganhar.

L.H. Fora da Galiza muitas pessoas acham que estamos perante um país conservador, mas também sabemos que se estám a desenvolver inúmeras luitas.

B. A natureza conservadora dum país nom se deve medir só em funçom do voto. Mais de meio mundo é conservador, e nom precisamente menos que Galiza, utilizando esse padrom. Somos nós menos ou mais progressistas que @s portugueses/as? E que @s castelhan@s? Nom é um debate bem orientado. Os motivos da tendência histórica ao voto na direita por parte dumha importante base social do povo galego tenhem a ver com muitos motivos históricos, culturais e políticos que nom se devem reduzir a apelativos que tampouco clarificam grande cousa, como o de sermos ou nom conservadores/as. Haveria que perguntar-se, enfim, em quê o somos...

Ainda, estamos convencid@s de que esse epíteto tem grande releváncia para condicionar simbolicamente a reaçom dum povo perante as injustiças. E neste caso concreto, conduzi-lo ao ultracriticismo, o desencanto e desengano, a frustraçom e o pensamento mais mágico que materialista de que "todo é assim e nom há remédio porque todo é culpa nossa por sermos como somos". Um razoamento mui plausível para o poder. E que como bem saberedes nom existe só precisamente em Galiza. Isto é umha fórmula de contençom que quiçá por todo o contrário é mui utilizada no nosso país: porque se fai necessário imbuír tal auto-conceiçom metafísica de nós própri@s para iludirmos responsabilidades individuais e coletivas.

Por se nom for suficiente, cumpre lembrar que em geral o imperialismo utilizou mui frequentemente estas sentenças históricas sobre os povos que submetia: atrasad@s, incult@s, ingnorantes, logo conservadores, e portanto incapazes de ser soberanos. Nom deixa portanto de ser curioso que se reivindique tanto esta condena semicolonial do povo galego.

Evidentemente, sem Galiza o mundo teria perdido um exemplo espetacular de como um povo massacrado num golpe de Estado militar e genocida, que provocou um verdadeiro holocausto mui desconsiderado historiograficamente ainda nom há um sêculo, foi capaz de regenerar com quase meia populaçom fora das suas fronteiras projetos políticos de emancipaçom realmente avançados, situados nas coordenadas mais contestatárias da esquerda política e do socialismo a escala internacional, com um potente movimento estudantil flutuante, com umha constante histórica de luita feminista de influência transversal em quase toda a esquerda, com um sindicalismo nacional cujo calado só se supera em Euskal Herria, umha combatividade operária reconhecida apesar do escasso desenvolvimento industrial, e um movimento juvenil viçoso em plena fugida massiva de milhares de amig@s, companheir@s e familiares cada ano.

Com este panorama, a nossa experiência de luita nom é pouca cousa. E a policializaçom massiva da nossa sociedade, um bom exemplo do pánico que sentem a que este povo desperte.

LH. Há bem pouco assistimos ao juicio a catro independentistas na Audiência Nacional. Está-se a incrementar a repressom na Galiza?

B. A repressom está a adaptar-se ao contexto social e político. Espanha é um Estado terrorista com mecanismos jurídicos e policiais mui aperfeiçoados de combate à dissidência. A sua experiência histórica está aí.

Nas luitas sociais experimentadas nestes anos temos podido observar como camadas sociais antes impermeáveis à repressom, que viviam numha borbulha alheia à natureza do aparelho repressor espanhol, e que mesmo amparavam a perseguiçom política, estám a sofrer em carne própria o que nunca esperárom. Coletivos contra os desafiuzamentos, protestos ante sedes políticas e do poder, marchas em defesa da educaçom, do sistema sanitário, do emprego, da defesa do território, contra a privatizaçom de serviços, o sonado rebúmbio de afetad@s polas preferentes e subordinadas... Todos eles começam a registar um historial de incidentes mais ou menos graves com a ordem burguesa.

Obviamente, o Estado controla a permeabilidade de tais movimentos à penetraçom de contingentes militantes experimentados que podam vigorizar e/ou politizar as suas luitas dumha maneira mais expressiva e perigosa para o poder. Entretanto, este limita-se a atemorizar com sançons, com espancamentos e detençons na sua linha de intervençom habitual, hostil às demandas populares e sempre servil aos interesses dos poderosos.

No caso concreto da perseguiçom do independentismo "radical" e "violento", segundo as suas próprias expressons, o controlo é mui estreito. Há linhas paralelas de confronto com o poder. Enquanto estas nom se encontrem, todo vai mais ou menos baixo controlo. O objetivo do poder é manter um degráu de criminalizaçom e desconsideraçom tais polo independentismo, que este jamais abandone o status de movimento “grupuscular” incapaz de dinamizar e mesmo liderar com o seu discurso e o seu exemplo de luita as reivindicaçons operárias, feministas, juvenis e populares. O objetivo, enfim, é criar umha atmofera de alienaçom popular respeito do independentismo, acentuando todo aquilo que poda distanciá-lo das massas e ignorando o seu, o nosso, imenso trabalho de base que tantos passos avante tem dado.

Todo o circo montado à volta dumha organizaçom alegadamente terrorista que poda estar a causar grandes transtornos à populaçom galega, alterando o funcionamento democrático e bla, bla, bla... é um discurso para o tribunal. Daí para afora nom ocasiona temores.

Sim motiva obviamente umha reflexom pausada dentro da esquerda independentista sobre as consequências da aplicaçom da "teoria das redondezas, da influência ou do contorno". De que criado o inimigo, este poda tornar tam volúvel que vivamos num estado de excepçom permanente sem conhecer a que garantias legais ater-nos como militantes dum largo movimento socio-político colocado no alvo dum inimigo fascista que já desenvolveu este modelo de repressom em Euskal Herria.

LH. Fostes a mocidade os primeiros em dar os passos precissos face essa unidade. É possível falar-nos de qual foi o jeito de chegardes a este ponto?

B. Pois basicamente paciência; umha soma de tempo e trabalho político militante interno. Permitir ao tempo transcorrer. E fazer um trabalho de formigas para educar-nos como jovens na máxima de que o nosso inimigo nom se molesta precisamente ao ver-nos envolvidos em liortas intestinas. A partir daí, a crítica e autocrítica respeitosas sempre bem recebidas. As portas abertas ao reencontro formal e fraternal entre diversas culturas militantes que temos muito de que falar e importantes cousas e experiências, objetivos e sonhos que darmo-nos e receber.

E nom podemos negar o impato subjetivo e objetivo da crise sistémica. Quer na reorientaçom do discurso político do nacionalismo maioritário, quer na tática política de todos os agentes implicados em responder golpe a golpe, em construir a autodefesa do povo galego frente à ofensiva de Espanha, do Capital e do Patriarcado.

Aí nasce já um novo capítulo. O de sentar a falar. Discutir honestamente. Tecer pontes que levavam anos caídas e sem vontade de reconstruir-se. E sem pressas, as unidades mais ou menos funcionais para estender o independentismo, o socialismo e o feminismo deverám ser resultado de acordos abrangentes. Isso interessa-nos.

LH. Achades que vossas referências partidárias darám assim mesmo passos nesse sentido?

B. Nom nos corresponde a nós acelerar ou distender os ritmos de entendimento entre partidos políticos. Nós como organizaçom juvenil independentista procuramos fazer possível no nosso espaço de intervençom aquilo que facilite a presença, a força e o peso da emancipaçom nacional e social de género. Como quer que isto se implemente a outro níveis é algo que só indo avante e com bons resultados na nossa área poderemos estimular noutros frentes como algo positivo.

Portanto a nível partidário avançará-se ou nom neste aspeto em funçom de muitas outras dinámicas. E entre elas a forma em que resultem estas experiências pioneiras de unidade de açom juvenil. Nom devemos cair na autocomplacência de cindir o juvenil do partidário. Logicamente há um importante componente de experimentaçom que se desenvolve no âmbito juvenil nos movimentos políticos. Nós daremos umha resposta que favorecerá ou nom um clima similar a nível partidário. Já veremos como sae.

L.H. Quê agardades desta jornada reivindicativa face o futuro?

B. Aguardamos que seja umha jornada de referência. Um sucesso de participaçom que coloque na agenda política a reivindicaçom juvenil pola soberania e a independência políticas como algo longe de ser residual. Que dê fôlegos, que entusiame. Que anime gente nova a incorporar-se a esta fermosa luita por umha Galiza livre, vemelha e lilás num outro mundo que é necessário construirmos.

Aguardamos que se visualize a força da bandeira azul e branca com a estrela vermelha como emblema patriótico que se reforça ante a adversidade da alienaçom rojigualda tam machista, fedorenta e reacionária. O patriotismo internacionalista, solidário, diverso e consciente frente à "banderita de regalo" e o patrioterismo oportunista e homogeneizador.

A bandeira da juventude que se compromete com o seu futuro. A Galiza que aí vem frente à "Galicia" caduca, comatosa e timorata de que falávamos mais arriba.

Falamos da responsabilidade dum povo jovem em tomar o poder para tranformar a sua ostentaçom e a nossa ruína na nossa emanicpaçom e a sua condena. Nom é pouca cousa. Tem que ser um passo avante dado com contundência. Este 24 de julho Compostela e o país inteiro devemos agitar com orgulho a nossa bandeira.

L.H. Já para finalizar: achades que Galiza devagar já começa a dar passos face a sua configuraçom como Estado socialista soberano.

Bom, a conformaçom dum Estado socialista soberano é algo que nom está escrito nas nossas agendas anuais, que acabam dentro de 6 meses. O calendário marca muitas luitas de resistência que com certeza deveremos acompanhar dumha luita de ofensiva e construçom nacional e social.

Mas temos muitos pequenos e grandes logros que atingir para que essa realidade futura poda sequer ser formulada com garantias por um movimento patriótico de libertaçom nacional mui forte. A Galiza soberana e socialista nom a vamos construir nós sós; vai-na construir o povo trabalhador galego em marés vermelhas que estám por chegar. E chegarám.

Muito obrigada polo tempo que nos dedicastes e aginha agardamos ver a Galiza avante no camino da sua soberanía e libertaçom.


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