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Actualizada em
14/01/14
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A segregaçom sexista no desporto

imagem Setembro 2013

Polo seu interesse, colamos a seguir um dos documentos que fam parte do último número saído do prelo do nosso vozeiro nacional, o XERFAS. Trata sobre umha questom tam importante e pendente de análise como sexo-gênero e desporto.

A SEGREGAÇOM SEXISTA NO DESPORTO.

A dia de hoje, o desporto joga um papel mui importante nas sociedades do centro capitalista: como fenómeno de massas, é um elemento que atrai nom só praticantes do mesmo, mas também espetadoras/-es que gozam observando a sua prática. Nom imos analisar aqui a maneira em que o desporto-espetáculo age como umha das chaves de alienaçom e adormecimento de consciências; nom apresentaremos a sua funçom como referente identitário que promove a conscientizaçom nacional e o patriotismo, cumprindo o papel que séculos antes desenvolviam outros fenómenos culturais como a literatura; nem tampouco denunciaremos a sua conversom numha mercadoria mais. Embora estas faces do desporto devem ser analisadas para entendermos a sua releváncia como elemento cultural, queremos reflexionar nestas linhas sobre um dos aspetos que parece estar ligado de maneira intrínseca ao desporto: o sexismo.

O desporto-espetáculo sempre estivo dominado polos homens, e que a dia de hoje esta assimetria se segue mantendo é facilmente constatável: a menor participaçom de mulheres adultas em determinados desportos, as enormes diferenças de salários entre as desportistas profissionais e os seus homólogos masculinos, o limitado espaço que se reserva às desportistas nos meios de comunicaçom de massas e o machismo que em múltiplas ocasions transparece esse espaço, som apenas alguns exemplos, pois devido às numerosas facetas que desempenha o desporto socialmente, alimenta a discriminaçom dumha maneira mais complexa e abrangente.

A prática de desportos entre as crianças gera umha influência mui positiva na promoçom de certos valores como o companheirismo, a solidariedade, o fomento do trabalho em equipa, convertendo-se num espaço de sociabilizaçom mui importante –por nom entrarmos a comentar o benéfico que resulta para os nossos corpos a realizaçom de atividades físicas deste tipo–. Porém, como advertíamos, o desporto difundido nos meios de comunicaçom nom é qualquer exemplo positivo, polo que é tarefa do desporto de base e dos movimentos sociais que o promovem fazer a necessária reflexom de como a ideologia dominante é transmitida através das atividades desportivas e portanto, como frenar esta tendência, fazendo do desporto de base umha ferramenta para a promoçom de outros valores. Nom obstante, em múltiplas ocasions o desporto de base segue a ser mais um ninho do machismo.

Simplifiquemos o conceito de sexismo e partamos da premissa de que o sexismo é a discriminaçom baseada em critérios sexuais e de género; ergo, que a participaçom dumha pessoa num determinado desporto, equipa ou competiçom esteja condicionada por um critério de género é umha discriminaçom sexista. Apesar do evidente que poderia parecer num início esse silogismo, a realidade demonstra-nos que conseguir a unanimidade na defesa dum desporto nom segregado é mui difícil, mesmo entre sectores sociais que defendem noutros pontos do espectro ideológico posiçons avançadas.

Assim pois, olhamos com decepçom para umha Galiza na qual umha parte mui importante do desporto de base alimenta os roles de género, afirmando que homens e mulheres devem jogar e competir de maneira segregada –pois as diferenças entre ambos os géneros som assim de insalváveis–, o que finalmente se acaba traduzindo numha exclusom da participaçom das mulheres nos desportos. As desigualdades sociais que entre homens e mulheres ainda existem a dia de hoje, a ideologia machista que desde que nascemos nos é inculcada de maneira sistemática, vivermos num sistema como o patriarco-burguês em que a divisom sexual do trabalho é um dos fatores dos quais depende para a sua supervivência, som elementos que provocam importantes assimetrias entre homens e mulheres e a sua relaçom com o desporto, colocando as mulheres num ponto de clara desvantagem. Isto provoca que o número de mulheres, especialmente quanto mais avançada é a franja etária, interessadas na prática do desporto diminua devido às tarefas que, segundo o rol que lhe foi atribuído, devem priorizar. Portanto, a conformaçom de competiçons ou equipas nom profissionais conformadas exclusivamente por mulheres é muitíssimo mais difícil de conseguir.

O desporto deveria ter como objetivo a erradicaçom destas assimetrias, fomentando a participaçom

das mulheres e facilitando a sua integraçom, nom colocando ainda mais empecilhos no seu caminho, como a exigência de chegarem a um número mínimo de participaçom.

Para acabarmos com umha nota mais positiva, queremos pôr dous exemplos. O primeiro está relacionado com a concreçom de projetos que tenhem como objetivo conseguir a igualdade de condiçons e o reconhecimento das mulheres no desporto; o segundo é proposto como um referente de luita e determinaçom.

Por umha banda, queremos parabenizar Siareir@s Galeg@s pola normalidade com que, desde 2009, esperamos o jogo da nossa seleçom de futebol británico, umha seleçom que representa as galegas e galegos, nom só através dumhas cores, mas também graças às mulheres e homens que partilham o terreno de jogo com total naturalidade: essa sim é umha seleçom integradora. Como nom poderia ser doutro jeito, também reconhecemos a importante tarefa que diferentes centros sociais e iniciativas populares no nosso país realizam na promoçom dum desporto que nom segregue por géneros, potenciando a criaçom das chamadas equipas mistas. Os exemplos mais recentes xurdírom do sucesso com que o futebol gaélico foi acolhido no nosso país, dando lugar a umha série de equipas que, mostrando a coerência com os princípios que consideramos que o desporto de base deve exemplificar, nom marcam qualquer diferença entre as pessoas que participam segundo os órgaos sexuais que tenham.

Pola outra banda, queremos lembrar Irene, a quem pertence a foto que ilustra este artigo, umha futebolista galega da década de 20 do século passado [1]. Era guarda-redes e sempre a única mulher sobre o campo de jogo. Começou a sua carreira desportiva jogando no 'Orillamar', demonstrando a sua destreza por diversos campos da Corunha. Ganhou o respeito dos seus companheiros de equipa, e também dos seus rivais, sem existir a dia de hoje qualquer referência em que fosse injuriada ou menosprezada, senom todo o contrário. Acabaria conformando a sua própria equipa, a Irene F.C., com a qual ia de gira, enchendo as bancadas de gente que pagavam umha pequena quantidade por vê-la jogar, quantidade que depois era partilhada entre ela e os seus companheiros. Um bom exemplo da sua popularidade foi o jogo que se organizou para arrecadar fundos para ajudá-la a curar-se da tuberculose que finalmente acabou com a sua vida em 1928. A admiraçom e respeito que Irene despertou na sua época nom foi fácil de conseguir, pois o rechaço social que provocam aquelas pessoas que se oponhem ao rol que deveriam desempenhar é umha constante ao longo da história, mas ela luitou contra as imposiçons de género dominantes, exemplificando que mulheres e homens som iguais no campo de jogo.

[1] s.v. "Irene" em Álbum de mulleres. Consello da Cultura Galega <http://www.culturagalega.org/album/detalle.php?id=450&autor=Irene>